Pobre mana imerecida, que tantas vezes lhe suscitava a inconfessável raiva de não estar à altura, e ser incapaz de retribuir a atenção, o feitio, e a solicitude. Desde sempre a vira sobrecarregada de trabalho, a desdobrar-se nos cuidados com os outros, com o pai, com a mãe, com o marido, com o filho, agora com o irmão, num sobrepeso de tarefas, ânsias, desvelos e fadigas. Pela vida habituara-se a ver mulheres cansadas, estava farto de mulheres cansadas, até por não compreender a assustadora capacidade de se concentrarem em várias ocupações simultâneas e de violentarem o corpo até à exaustão. Mesmo depois de reformada e retirada, a mana continuava a manter o vício da azáfama e, mal se levantava, urgiam as obrigações, as incumbências que não poderiam esperar e que a obrigavam a correr, fosse a pôr alpista no fontanário dos pássaros, a aparar a relva, a queimar as folhas, a acarretar lenha, a varrer a estrada, a limpar os canteiros, a arrumar a arrecadação, a reparar a vedação, a regar as árvores, a lavar e a aspirar o carro e a tratar por telefone de minudentes assuntos burocráticos. Quando parecia serenar e se sentava ao computador, depois de ter atrasado o mais possível esse momento, deslocando um bibelot, ou passando rapidamente com o pano do pó, por um móvel, Gustavo sentia-lhe, na insegurança do olhar, o sentimento de culpa por estar parada, numa ocupação leve, enquanto lhe acudiam ao espírito mil e uma emergências.
Esta parece a descrição da minha mãe!
Será por causa disso que eu também não páro de "cirandar"? E que em certos dias sinto que não faço nada? Mas a verdade é que fico cansada porque há todo um sem número de pequenos nadas que me fazem andar numa roda viva!
Andava com isto pensado e talvez por isso a semana passada senti a necessidade absoluta de parar, ou melhor de me acalmar, de me re-encontrar!
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